Quatorze de Junho é o dia Mundial do Doador de Sangue. Todos os anos, nessa mesma época, recebemos várias mensagens sobre a importância de se doar sangue e ajudar o próximo. Mesmo com todo esse esforço, em algum momento sempre ficamos sabendo que o banco de sangue local está vazio e que as doações são mais necessárias do que nunca.

Agora pare e pense, se, para nós humanos é tão difícil manter a oferta de sangue necessária, como é a situação para cães e gatos que precisam de uma transfusão?

Quase nada se fala sobre a doação de sangue animal. Nem sobre como essa ação ajuda não apenas cães e gatos, mas famílias inteiras que se juntam em esforços para salvar um ente querido numa situação de emergência.

O sangue é considerado um tipo de tecido conjuntivo líquido, vivo e renovável produzido na medula óssea. Composto por diversas células divididas em grupos. Os leucócitos (glóbulos brancos), eritrócitos ou hemácias (glóbulos vermelhos) e as plaquetas, responsáveis pela coagulação sanguínea.

O sangue coletado do cão ou do gato não pode ficar armazenado por muito tempo. São 35 dias totais de armazenagem, após isso, o material não pode mais ser usado. Por isso, é importante fazer a doação com regularidade.

Estoque de Sangue canino (Foto: Hemopet-MS)

Por que doar sangue do meu animal?

As razões para fazer a doação de sangue pet são as mesmas que levam uma pessoa a doar o próprio sangue.  Altruísmo. Empatia.

Nossos cães e gatos não podem tomar essa decisão conscientemente, por isso temos que faze-la por eles. Nós, como humanos tutores de animais, somos aqueles que se colocam no lugar do próximo. Somos nós que temos pensamentos como; “E se fosse o meu gato precisando de uma bolsa de sangue?” ; “O que acontece se o meu cachorro sofre um acidente sério?”.

Se as pessoas não tiverem esse tipo de pensamento, toda a prática de doação, coleta e transfusão de sangue se torna impossível. Por isso mesmo, elas têm que saber mais sobre o assunto.

Como é feita a coleta?

Perguntamos ao Médico Veterinário Jorge Alex R. Fernandes do HemoPet – MS, de Campo Grande. Confira;

“O processo de coleta, apesar de ter que ser feito por uma pessoa habilitada e experiente, é simples e rápido. A coleta é feita com o animal deitado em decúbito lateral. A veia acessada para coleta é a veia jugular localizada no pescoço. São necessários cerca de 5 a 8 minutos para coleta do volume necessário, volume esse que deve ser de no máximo 1,5 % do peso vivo do animal. ”

Preferencialmente, o cão doador precisa ter temperamento sereno. Isso facilita muito o procedimento, tornando desnecessário o uso de sedação.

Para a doação de sangue felino, a sedação se faz necessária, já que os gatos são mais ariscos e independentes por natureza.

Qual é a contrapartida para o doador?

A principal contrapartida, além do sentimento de ajudar o próximo e salvar uma vida, é o exame do sangue coletado.

Sempre que se faz a coleta, o animal doador passa por exames. Cães ou gatos que doa com regularidade, terão sua saúde monitorada regularmente. Além disso, a maioria das empresas que fazem a coleta do sangue animal também faz a vermifugação, além de oferecer vitaminas, minerais e aminoácidos necessários para um organismo balanceado.

De que forma o sangue coletado do meu animal é aproveitado?

São diferentes formas de aproveitar o sangue. De cara, o mais direto é a transfusão para repor o sangue de um animal que sofreu perda, seja decorrente de acidente, cirurgia ou anemia.

O que muita gente não sabe, é que também podemos conseguir derivados do sangue que são muito importantes e necessários na clínica veterinária. Eles são chamados de Hemocomponentes. São obtidos através da centrifugação em duas etapas do sangue coletado. Além do sangue em si, chamado Sangue Total, podemos obter;

• Concentrado de hemácias;
• Plasma fresco congelado;
• Concentrado de plaquetas;
• Crioprecipitado;

Quando uma bolsa de Sangue Total é fracionada, podemos obter os quatro hemocomponentes e, potencialmente salvar quatro cães. No caso dos gatos, podemos obter somente o concentrado de hemácias e o plasma fresco congelado.

Bolsa de sangue de doador felino. (Foto: Hemopet-MS)

Meu animal pode doar sangue?

Para que seu animal seja um doador de sangue, alguns pontos precisam ser respeitados.

Não importa se for um cão ou um gato, o animal doador de sangue necessariamente tem que:

• Estar vacinado e vermifugado;
• Estar sem parasitas;
• Não possuir histórico de doença grave;
• Não ter recebido transfusão sanguínea;
• Não estiver tomando medicação;
• Fêmeas não podem estar prenhes ou no cio;
• Não ser positivo para hemoparasitoses ou outras doenças infecciosas;
• Não ter sopro cardíaco;

Os cães precisam ter entre 1 e 8 anos de idade, com um mínimo de 25kg de massa magra. Raças de médio e grande porte como labradores e pastores são ótimos doadores. Cães sem raça definida de médio porte também

Foto: Hemopet – MSpodem doar sem problemas.

Os gatos precisam ter entre 1 e 7 anos de idade, com um mínimo de 4kg de massa magra. Raças como a Maine Coon e a Ragdoll, consideradas raças de gato gigantes, são ótimos doadores de sangue felino.

Doador tranquilo após a coleta. (Foto: Hemopet-MS)

Ufa! Depois de tanta informação assim, você já deve ter feito uma decisão. Se você pretende fazer a doação do sangue do seu animal, parabéns! Essa ação é muito importante e todos nos tornamos mais fortes com cada novo doador que aparece.

Portanto, antes de doar o sangue do seu animal, fale com o seu veterinário! Explique seu desejo de fazer a doação de sangue e pergunte se seu animal é um bom candidato. Peça referências de profissionais qualificados que farão a coleta de forma segura e ética. E não se esqueça de oferecer um biscoitinho como agrado para o seu amigo depois!

Fontes – Hemopet-MS,  Departamento Técnico Real H.